A revelação da atriz Angelina Jolie ao jornal The New York Times, de que realizou uma mastectomia dupla preventiva, ou seja, removeu os dois seios para diminuir o risco de desenvolver câncer de mama no futuro, provocou polêmica. Angelina não está doente, mas se submeteu à cirurgia após um teste genético indicar que ela carrega um gene defeituoso, o BRCA 1. O gene faz com que suas chances de ter câncer de mama e de ovário sejam maiores do que as das mulheres que não o possuem. A atriz tomou a iniciativa de descobrir se tinha o gene porque tem um histórico de câncer de mama na família sua mãe morreu aos 56 anos, depois de dez anos de luta contra a doença. Mas será que a retirada total de seios perfeitamente saudáveis foi uma escolha razoável?
A mastectomia preventiva é uma tendência americana, que surgiu em meados dos anos 90, quando cientistas descobriram que uma mutação nos genes BRCA 1 e BRCA 2 apresentava forte relação com o câncer de mama. Os genes causam defeito numa proteína supressora de tumores, deixando as pessoas mais suscetíveis ao seu desenvolvimento, explica o médico oncologista Ricardo Caponero. A verdade é que basta ser do sexo feminino e viver até os 80 anos para ter, pasme, 10% de chance de desenvolver o tumor. Agora, entre as que apresentam alterações genéticas, como Angelina, a probabilidade pula para 87%! Para verificar a presença dos genes defeituosos, basta um teste genético simples, com amostra da saliva ou de sangue, por exemplo.
Reconstrução da mama com silicone
O câncer de mama é o que mais mata mulheres no Brasil , daí a ideia de cortar o mal pela raiz . Afinal, a mastectomia preventiva tem uma eficácia que chega a 92%. Significa que apenas 8 em cada 100 mulheres que retiram a mama têm o câncer mais tarde. Mais: a cirurgia plástica e as próteses de silicone evoluíram e os resultados estéticos estão cada vez melhores. Hoje, a pele, os mamilos e as aréolas são preservados na maioria dos casos, explica mastologista Diógenes Basegio. A cicatriz é mínima. E, mais importante: o risco de ter câncer de mama cai drasticamente, de 87% para 5%. Ou seja, depois da cirurgia, quem carrega o gene defeituoso tem menos chance de ter um tumor do que quem não o carrega.
Decisão delicada
Mesmo assim, os médicos só sugerem a operação depois de descartarem todos os tratamentos e analisarem a relação custo/benefício.
A cirurgia em si não é complicada. A de Angelina durou oito horas e em poucos dias ela saiu do hospital e retomou a sua rotina.
Mas há vários efeitos colaterais: perda da sensibilidade nos seios e impossibilidade de amamentar (já que as glândulas mamárias são removidas). Por isso, o melhor é que a mulher tenha entre 40 e 50 anos, idade em que provavelmente já tem filhos e não amamenta mais. Outro risco da técnica é o de as mamas ficarem frias devido à remoção de veias e dos vasos sanguíneos.
Apesar desses efeitos, Angelina, já com 37 anos, já teve filhos, conversou com a família. No caso dela, o risco é muito grande para se correr. É como sair de casa sabendo que você tem 87% de chance de ser atropelado...
Plano B, C...
A cirurgia não é a única arma para evitar o tumor. Existem terapias hormonais que podem diminuir em até 70% os riscos. Ser examinada com maior freqüência é a saída menos radical, mas requer disciplina. Para ir ao ginecologista a cada seis meses, e fazer, se ele pedir, ressonância magnética, mamografia e ultra-sonografia todo ano, antes mesmo dos 40 anos. Assim, quando o tumor aparecer (se ele aparecer), estará tão pequeno que poderá ser eliminado sem a necessidade de extirpar toda a mama. Não são todas as mulheres com a mutação nos genes BRCA 1 e BRCA 2 que deverão ter a doença. Além disso, a presença da mutação no gene não é condição para o seu surgimento, pois 70% das pessoas que têm câncer de mama não possuem o gene defeituoso.